DO MEU AVÔ PARA MIM...

Eu e meu avô Odilon


Eu fui a terceira neta do meu avô materno, Odilon de Carvalho. Havia um casal de netos antes de mim, mas moravam no Rio de Janeiro. Quando eu nasci, de cesariana, depois de dois dias e uma noite de sofrimento da minha mãe, meu avô dedicou muita atenção, amor e carinho a mim, a neta que estava perto e que quase morreu antes de nascer.


Meu pai perdeu o emprego e ficamos por alguns meses na casa dele, o que fortaleceu os nossos laços. Depois fomos para Curitiba e ele sofreu muito com a separação.


Fez poesias a mim dedicadas demonstrando todo o amor e carinho que sentia pela netinha.


MARIA DE FÁTIMA

*Odilon de Carvalho

Fevereiro, dezenove,
Após uma luta insana
E de uma cesariana
Vieste à luz, meu anjinho.
Minha netinha querida,
Um pouco de minha vida.

Todos nós te esperávamos,
Ansiosos, desejávamos
Que viestes, viva, à luz.
E fomos bem atendidos,
Nossos rogos foram ouvidos,
Por Maria e por Jesus.

E neste teu nascimento
Eu tive um pressentimento:
- Eras menina -, e assim
Deveríamos tributar
A Maria te ofertar
Como reconhecimento.

MARIA DE FÁTIMA: estás
Concretizando o meu sonho,
Meu viver inda risonho
De vovô que te quer bem.

Que sejas feliz na vida,
De teus pais seja querida
E da Mamãe do Céu também.

*Meu avô materno, Odilon de Carvalho, era jornalista, escritor e poeta. Muito religioso, quando eu estava para nascer, na Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa e minha mãe sofria muito por não conseguir me ter de parto normal, ele fez uma promessa, aos pés da imagem de Nossa Senhora de Fátima, que lá existe, para que, se tudo corresse bem, me batizarem como Maria de Fátima, em agradecimento.







MINHA NETINHA

Odilon de Carvalho

Minha netinha,
É esse pinguinho de gente
Mimosinha,
Queridinha,
Apelidada “Mãinha” ;
Que me prende,
Que me rende,
Me cativa,
Me domina
E que maltrata meu coração
De vovô
Que lhe quer bem
E que não posso separar-me
Desse Anjinho,
Queridinho
Como ninguém.

Todo dia,
Toda hora,
Todo instante
Ela me chama
De papai.
Já estou triste
Só em pensar
Que muito breve
Ela deixar-me
Vai...

Esse Anjinho,
Queridinho,
Mimosinho,
Como ninguém.

E que me prende,
E que me rende,
E que maltrata
Meu velho coração
De vovô
Que lhe quer bem!!!

Esta ele fez quando completei 9 meses de idade.




SAUDADES DE MÃINHA

Odilon de Carvalho

Depois de dez meses de convívio,
“Mãinha”,
Você foi embora,
Minha bonequinha,
Meu amorzinho,
Minha vida!

Eu sei que você não teve culpa,
E nem eu também...
E nem vou culpar
O seu bondoso pai,
A sua querida mãe...
Não!
Culpado, foi...
O destino...

Não o teu, que é inocentinha;
Foi o meu; um velho pecador,
Um vovê caduco...
E que tem o grande crime
De ter amor
À sua Netinha
À sua querida
“Mãinha”.

Eu sei, Mãinha,
Minha bonequinha,
Que não viverei muito
Sem você.
Não a esquecerei
Jamais, um só momento!
Porque viver separado
De você
É um tormento.

Que hei de fazer?
Diga lá você,
“Mãinha”,
Como posso viver
Sem a ver
Suportando esse fardo terrível
Do destino?

Quisera ser menino
E poder fugir...
Correr...
Os meninos fazem tudo,
Sem responsabilidade.
Se eu tivesse a tua idade...
Eu teria ido com você.
Não pagava passagem...
Em qualquer lugarzinho
Do avião,
Na bagagem,
Me caberia;
Contanto que estivesse pertinho
De você,
Do seu coraçãozinho.

“Mãinha”,
Minha loura boneca,
Minha querida netinha,
Aprenda logo a falar,
Par pedir,
Para implorar
A papai,
A mamãe,
Para trazê-la novamente
Ao seu avô.

E peça a Papai do Céu,
A Mamãe de Fátima,
Por mim:
- Um velho pecador!...
Cujo pecado maior,
- Escute “Mãinha”,
É o seu amor!!!...

Adeus, Mãinha,
Deus a abençoe, queridinha.
Dê-me aquele “adeusinho”,
Aqueles beijinhos,
Aqueles abracinhos,
Dos nossos dias passados,
Dos nossos idílios
Amorosos...
De vovê caduco
E de sua “Boneca”.

Adeus!
Sei
Que não a verei mais.
Seja, de hoje em diante,
O meu Anjo da Guarda.
O outro... estava velho
E cansado;
E foi substituído
Por você.

Tome conta de mim.
- Fiquei menino:
Zele pela minha sorte,
E depois da minha morte...
Pelo meu destino.

Adeus “Mãinha”,
Adeus!!!...

Esta foi quando fomos embora para Curitiba, eu e mamãe (papai já estava lá), em 30 de dezembro de 1953.






CIÚMES

Odilon de Carvalho

“Mãinha”,
Minhas saudades...
Transformaram-se agora em ciúmes:
Ciúmes... de você, Mãinha:
Você assim bonitinha,
Amável, queridinha,
Até de... alagoano?...
E até da vizinha...

Eu não quero, Mãinha,
Estas amizades.
Você ainda não conhece
A vida, nem os homens,
Que todos eles são maus.
Menos seu pai e seu você...

Mãinha,
Eu irei muito breve
Pra juntinho de você,
Minha “bonequinha”!

Recebi seu telegrama
E o seu postalzinho.
Já estava mortinho
De saudades

Mas... na verdade,
Eu estarei aí
No seu aniversário,
Se Deus não mandar o contrário.

Mãinha,
Lembre-se de mim
De seu velho vovô,
Que só vive e pensa
Em sua “Bonequinha”.

E vivo na amargura,
Sem uma lembrança sua
Que sua mãe não deixou,
Senão um retrato feio...
O seu velhinho “bu”,
O seu travesseirinho,
Um velho lençolzinho...
É essa toda a herança,
A lembrança...
De Mãinha...

Constantemente sonho,
Acordo a chorar...
Vivo a suspirar,
A pensar...
Somente na minha
Queridinha.

E agora esta carta
De sua mãezinha,
Despertou-me a inveja,
Matou-me de ciúmes!

Pois você não sabe?!
Diga aí a todo mundo,
“Mãinha”
Que você é somente,
Somente, minha!!!

Esta foi depois de receber cartas da minha mãe contando as minhas trelas e as amizades que fazia em Curitiba. Janeiro/1954.




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