sábado, 14 de dezembro de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO...


QUANDO A PACIÊNCIA SE ESGOTA

José Calvino de Andrade Lima

Essa aconteceu nos anos 50, no Recife. Havia, na subida do Alto José do Pinho, bairro de Casa Amarela, uma horta, cujo dono era apelidado de “Seu Cu”. Não gostava, é claro, de ser chamado de “Seu...”, mas desde menino, os moleques dos Morros e adjacências, onde quer que o encontrassem, chamavam:

- “Seu Cu”, tem alface?

- “Seu Cu”, tem quiabo?

O dito cujo já estava com seus quarenta e poucos anos de idade e os meninos continuavam zombando dele...

Um dia, não mais aguentando meteu bala num dos zombeteiros e matou-o na hora. A família da vítima era rica; a do “Seu..., pobre.

Não houve jeito de encontrar um advogado para defendê-lo, pois o crime contava com muitas testemunhas.

Depois de apelarem para advogados, sem sucesso algum, resolveram procurar um tal de 'Zé Cachaça', advogado que há muito tempo deixara a profissão, pois, como o próprio apelido indicava, vivia de porre.

Pois não é que o 'Zé Cachaça' aceitou o caso? Passou a semana anterior ao julgamento sem botar uma gota de pinga na boca!

Na hora de defender o seu constituinte, ele começou a sua peroração assim:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

Quando todo mundo pensou que ele ia continuar a defesa, ele repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

Repetiu a frase mais uma vez e foi advertido pelo juiz:

- Peço ao advogado que, por favor, inicie a defesa.

Zé Cachaça, porém, fingiu que não ouviu e:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

E o promotor:

- A defesa está tentando ridicularizar esta corte!

O juiz:

- Advirto ao advogado de defesa que se não apresentar imediatamente os seus argumentos...

Foi cortado por Zé Cachaça, que repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

O juiz não agüentou:

- Seu bêbado irresponsável, está pensando que a justiça é motivo de zombaria? Ponha-se daqui para fora antes que eu mande prendê-lo.

Foi então que o Zé Cachaça disse:

-Senhoras e Senhores jurados, esta Corte chegou ao ponto em que eu queria chegar...

Vejam que: se apenas por repetir algumas vezes que o juiz é meritíssimo, que o promotor é honrado e que os membros do júri são dignos, todos perderam a paciência, consideraram-se ofendidos e me ameaçaram de prisão, pensem então na situação deste pobre homem, que durante quarenta anos, todos os dias da sua vida, foi chamado... tenho até vergonha de... (dramatizando, começou a chorar) !

Moral da história, o réu foi absolvido.

Obs: São relatos verídicos, mas o apelido do advogado é ficcional.

Fonte: http://josecalvino.blogspot.com.br/2013/01/quando-paciencia-se-esgota.html


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